Movimento e Voz em Cordel: Uma Proposta de Interação entre a Literatura de Cordel, o Teatro de Mamulengo e o Teatro de Sombras.
OBJETIVOS
I. Dialogar com a produção literária e estética produzida e reunida pelo ponto de cultura Lira Nordestina, buscando subsídios plásticos e textuais para a elaboração de cenas teatrais que possam ser vivenciadas através das técnicas do teatro de mamulengo e do teatro de sombras, utilizando-se da linguagem da literatura de cordel e da estética da xilogravura para construção e confecção destes teatros.
II. Oferecer o ensino, através de oficinas, para a criação dos personagens das peças teatrais, sendo uma com técnicas de construção do teatro de mamulengo e outra com as do teatro de sombras, capacitando os participantes com essa possibilidade expressiva complementar à própria criação literária.
III. Contribuir com a difusão da literatura de cordel e com a diversificação de público com o enriquecimento dos suportes possíveis para dar vida a essa arte, a partir de apresentações públicas das peças resultantes das oficinas.
JUSTIFICATIVA DO PROJETO
A literatura de Cordel é uma rica e relevante forma de expressão do povo nordestino, com grande valor cultural reconhecido, e divulgada principalmente através dos livretos produzidos com uma estética peculiar desenvolvida com base na xilogravura. Do ponto de vista literário, sua forma, com seu ritmo característico, que muitas vezes inspira canções, nos convida a buscar outras possibilidades de expressar essa arte. Enriquecer seus criadores com novas ferramentas e modos de expressão é algo que possibilita aumentar o alcance de seus textos e seu universo cultural.
Como Artista Plástica e arte-educadora, tenho uma trajetória vivencial junto à cultura popular, especialmente no universo das representações teatrais embasadas na construção de personagens como o Mamulengo, acumulando experiência no segmento de criação e confecção de bonecos, em suas diversas técnicas, (como papel marche, madeira, cabaça, entre outras); e ainda as técnicas de montagem para o Teatro de Sombras. Nessas expressões, há a possibilidade de experimentar o desenvolvimento de bonecos e suportes com base no traçado marcante da xilogravura, a fim de dar vida e espacialidade às histórias contadas pelos cordéis, mantendo sua estética especial.
O Ponto de Cultura Lira Nordestina é um dos mais expressivos representantes de produção e socialização de cordel e xilogravura no Brasil. Sendo assim, neste projeto, proponho desenvolver um trabalho junto com os participantes do Lira Nordestina, oferecendo uma interação das produções literárias e estéticas de cordel e xilogravura produzidas, com o teatro de bonecos e de sombras, a partir do acervo e da produção da organização. Tal interação deverá se dar com a adaptação de cordéis em peças de teatro de mamulengos e sombras, utilizando-se da estética das xilogravuras locais para confeccionar os bonecos e as sombras que contariam as histórias escolhidas, estabelecendo, ao final do projeto, uma uma forma rica de atrair a atenção de adultos e crianças para a fantástica arte da literatura de cordel, utilizando as belas artes do teatro de bonecos e de sombra, em diálogo e troca recíproca. Essa aproximação também possibilita aos participantes do ponto de cultura o aprendizado e desenvolvimento de novas ferramentas de expressão, bem como diversificar as possibilidades de geração de renda, com a possibilidade de montagem de espetáculos e apresentações, ampliando a visibilidade do trabalho do Lira Nordestina e da literatura de cordel em geral.
DESCRITIVO DO PLANEJAMENTO DE EXECUÇÃO
1. Procedimentos e ações necessárias para a execução do projeto:
I. Conhecer o grupo e o material por eles produzidos, com o intuito de familiarizar-se com o mesmo e com sua produção, privilegiando atividades em grupo. Neste momento também será apresentada e discutida com o grupo a proposta do projeto, momento que será oportuno para a escolha de em quais áreas cada um gostaria de participar (se na adaptação dos textos para as peças; se na oficina de confecção dos mamulengos; e/ou na construção do teatro de sombras; se na manipulação e apresentação das histórias). Também nesta etapa deverá se definir os dias e horas que os encontros se realizarão. Ainda nesta etapa inicial, será trabalhado, com o grupo participante, um pouco das histórias dos dois teatros escolhidos para serem desenvolvidos no projeto, situando suas principais características, seu sentido histórico e suas diversas possibilidades de execução.
II. Seleção dos textos e sua adaptação para peças teatrais, construindo duas montagens, uma para teatro de mamulengo e outra para teatro de sombras. Caracterização dos personagens (idade, cor, sexo, características físicas, vestes, entre outras julgadas importantes); a definição do público que se deseja atingir; bem como a concepção do cenário e da trilha sonora (se necesssária). Ainda nesta fase, deverão ter início as atividades de planejamento e produção do circuito final de apresentação das peças, com a seleção e o agendamento de locais de apresentação.
III. Na terceira fase serão iniciadas propriamente as atividades de criação dos bonecos ou sombras para os personagens, bem como para a confecção dos cenários de cada peça.
IV. Com a finalização das confecções inicia-se a etapa dos ensaios das peças. Nesta fase os participantes deverão aprender as técnicas de manuseio dos respectivos teatros, bem como ensaiar a apresentação de cada peça preparada. Cabe ainda nesta fase dar início à divulgação das apresentações seguintes.
V. A última etapa comporta as apresentações dos trabalhos, em locais e horários estabelecidos conjuntamente com o pontos de cultura, encerrando-se em seguida o projeto com ainda um encontro de avaliação final e confraternização.
2. Cronograma
Primeiro Mês:
Execução da Fase I do projeto.
* Contato inicial com o grupo e com sua produção.
* Apresentação e discussão do projeto.
* Divisão em subgrupos por área de interesse de participação no projeto e estabelecimento dos dias e horários dos encontros.
* Análise e escolha dos cordéis que deverão ser transformados em peças teatrais.
Segundo Mês:
Execução da Fase II do projeto.
* Confecção dos textos, transformando-os em peças teatrais.
* Planejamento dos personagens e dos cenários.
* Construção de um planejamento e início da produção (seleção e agendamento dos locais) das apresentações finais do projeto.
Terceiro e Quarto Mês:
Execução da Fase III do projeto.
* Atividades de criação e confecção dos bonecos, sombras e cenários.
Quinto Mês:
Execução da Fase IV do projeto.
* Ensaio das peças, com aprendizado da manipulação dos bonecos e sombras e sua caracterização (como timbre de voz, trejeitos e outras características).
* Divulgação das apresentações seguintes.
Sexto Mês:
Execução da fase V do projeto.
* Apresentações, de acordo com o cronograma estabelecido no decorrer do projeto.
* Encontro final para avaliação final e conclusão do projeto.
* Encontro final para avaliação final e conclusão do projeto.
DESCRITIVO DA INTERAÇÃO E INTEGRAÇÃO COM O PONTO DE CULTURA
A presente proposta dialoga e interage em grande medida com as ações do Ponto de Cultura Lira Nordestina, cujo trabalho é preservar e impulsionar a literatura de cordel e dinfundi-la como expressão cultural. A integração entre esta proposta e as atividades do Ponto, portanto, se dará por meio da incorporação do acervo do cordel e xilogravura, na qual o cordel servirá de texto básico para as peças, com suas histórias extraordinárias e cotidianas, e a xilogravura ditará uma estética a ser seguida na confecção de cenários, indumentárias, e dos próprios bonecos. Sendo assim, o teatro de bonecos e de sombras oferecerá às histórias dos cordéis uma possibilidade de ganhar voz e movimento e serem vivenciadas por variados públicos.
IMPACTO SOCIAL DA PROPOSTA
O Bairro Pirajá, periferia do município de Juazeiro do Norte - Ceará, onde está inserido o Ponto de Cultura Lira Nordestina, é um dos mais precários da cidade. A população de Juazeiro do Norte é estimada em mais de 212 mil habitantes (IBGE, 2000), sendo grande a concentração no bairro referido, por ser um dos pontos de comércio forte da cidade, com a a famosa Feira do Pirajá. Neste sentido, a estimativa do número de pessoas beneficiadas com o projeto é enorme, já que o resultado das oficinas será oferecido em forma de apresentações para escolas, associações e grupos culturais da área de abrangência da atuação do Ponto de Cultura, além de poder ser apresentadas em praças e espaços públicos em diversas áreas do Cariri. Nossa proposta inclui quatro meses de formação e capacitação de novos artistas, que serão diretamente beneficiados e impactados com o projeto. Assim, o impacto social será expressivo, já que grande parte das crianças e adolescentes vivem com uma perspectiva profissional e criativa limitada, em um contexto onde a população local enfrenta dificuldades de geração de renda, tendo como principais fontes de sobrevivência basicamente os pequenos comércios informais. Neste projeto, esperamos levar perspectivas de contribuir com a abertura de um novo mercado de trabalho e geração de renda para o grupo diretamente envolvido e com o resultado, oferecer um contato com essas ricas manifestações artísticas para os demais cidadãos da cidade
PRODUTO FINAL PREVISTO